Derrubando os muros que separam a escola da realidade cotidiana, a doutora e mestra em educação Vanda Machado decidiu levar para jovens da Bahia uma proposta de aprendizagem diferente. Motivada pela insatisfação com a sua própria vida escolar, a baiana deu início ao projeto Irê Ayó, que leva às escolas estaduais e municipais a cultura afro-brasileira, diretamente ligada ao cotidiano de tantos jovens no estado.
“O projeto nasceu da ideia de fazer uma escola diferente da que eu estudei. Seria uma escola que pensa a pessoa, que acolha a pessoa, e que não fosse apenas para escolarizar, mas que também tivesse uma meta de educação para a vida e para o cotidiano”, explica Vanda.
Aproximando o ensino acadêmico da educação com relações étnico-raciais, o Irê Ayó tem como objetivo estimular a valorização da produção do conhecimento e das manifestações das matrizes culturais indígenas e africanas, que de alguma forma se fazem presentes na memória coletiva das comunidades e que funcionam como uma espécie de princípios para a construção de identidade, autoestima e convivência solidária.
Caminho de alegria
“Irê Ayó significa ‘caminho de alegria’, e para que esse caminho de alegria aconteça de fato é preciso que o jovem esteja presente em sua educação”, defende a doutora especializada em educação pela cultura.
Apesar dos 20 anos de atuação frente ao projeto, Vanda diz que o processo de reconhecimento da criança, especialmente as afrodescendentes, como agente social ainda é lento, sendo influenciado também pela carga histórica brasileira, que precisa ser repensado por todos.
“É preciso compreender que a história do Brasil não começou com a chegada das caravelas de Portugal. Antes disso existem os primórdios da cultura africana, de onde partem conhecimentos de arquitetura, medicina, cosméticos e inclusive as primeiras universidades. É preciso compreender que negro não é problema para a sociedade”, pontua.